Você já imaginou estar num almoço maravilhoso, servido por um chef experiente e não poder ver o que está sendo servido? Parece uma loucura, não é? Mas esta é a realidade diária de milhões de brasileiros que perderam parte ou 100% da visão.
Comer com os olhos é uma delícia, mas quando a visão falha, o cérebro aprimora os outros sentidos. A visão é o sentido mais explorado pela mídia, por empresas de marketing e publicidade. Isto acaba deixando de lado o prazer que poderia ser proporcionado aqueles que não enxergam. Cegos – totais ou parciais – são esquecidos por grande parte das empresas. Sendo assim, a prestação de serviço a eles é muito falha.
Pensando nisto, a equipe do Casulo Cultural realizou, numa parceria inédita com o Senac Osasco, um almoço sensorial. O objetivo do almoço era explorar sensações diversas quando a visão está ausente. Será que o gosto sentido é o mesmo? A refeição fica mais ou menos saborosa? Será que é difícil localizar os acessórios como talheres, copo, taça, guardanapo e até a boca? Como é servir e prestar serviço a pessoas que não enxergam?
O almoço contou com um menu de primeira selecionado pelo Chef Lúcio Roberto e preparado junto com os alunos do curso de Gastronomia da unidade. A entrada era um Tartelete de Salmão defumado com involtini de uva e foi indicado para ser degustado com as mãos. O primeiro prato, um Risoto de limão siciliano com pernil desfiado e amêndoas laminadas, explorou a sensação de crocância dos alimentos. Já o segundo prato, um medalhão de mignon com trilogia de purês (cenoura, beterraba e brócolis) apresentou a suavidade e a delicadeza dos legumes e das flores na refeição (a decoração feita de flor era comestível). A sobremesa era uma panacota com calda de frutas amarelas e a decoração, uma espiral de caramelo, também podia ser degustada.
Sentaram à mesa convidados cegos e não-cegos. Entidades que lidam com o dia-a-dia de pessoas que perderam parcial ou inteiramente a visão estiveram presentes e levaram seus assistidos ao almoço, entre elas Laramara e Serenidade do Toque. Entre os convidados não-cegos podemos citar a gerente do Senac Osasco, Claudia Itano, o ator Nicholas Torres, Nancy Nasser, presidente do Lions Clube de Osasco, Letícia Leite e Juliana Reis da Revista Incluir e Vanessa Vasconselos, representando o setor de inclusão do Bradesco. Quem não é cega recebeu uma venda e fez toda a refeição sem enxergar.
Após o almoço um café e um bate-papo sobre a experiência. E a emoção permeou a fala de todos. Para os alunos, o desafio de servir pessoas que não enxergam é algo que deve ser colocado durante o aprendizado com mais frequência, já que estas pessoas existem e tem as mesmas necessidades de todos como vontade de sair para se divertir e para jantar a dois, por exemplo. Alessandra Costa, que enxerga e é esposa de José Roberto da Costa que perdeu a visão há pouco tempo, falou emocionada sobre a oportunidade de estar num almoço como este onde pôde se colocar no lugar do marido. E lembrou que os requisitos de acessibilidade, como piso tátil e braile em placas informativas ainda não são colocados em prática. Geisa, uma das convidadas que não enxerga, disse que ficou surpresa com o resultado. Era a primeira vez que estava em um almoço cujo menu foi pensado para pessoas que não tem visão. Claudia Itano, gerente do Senac Osasco, lembrou quanto outros sentidos se destacam quando a visão é retirada. Paladar e olfato ficam muito mais atuantes durante a refeição nesta situação. E reforçou a importância de haver mais acuidade no trato com deficientes visuais por restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.
Na saída do evento, os convidados puderam conhecer o trabalho de Marcelo Pasqua. Ele é criador do Projeto “Tato” que está transformando obras de arte conhecidas em impressões em alto-relevo. Assim quem não enxerga pode “ver” a arte com as mãos!
Embora inovadora, esta experiência deve ser rotina – tanto no dia-a-dia dos estabelecimentos comerciais quanto nas escolas, não acham?
Este foi uma das atividades organizadas pelo Casulo Cultural em Osasco. O site Cultura Osasco tem orgulho de fazer parte do núcleo de comunicação deste projeto que está descobrindo e destacando para a sociedade os movimentos culturais da região oeste de São Paulo.
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